Você esperou a semana toda para ficar com ela. No fim do dia, vocês se ajeitam no sofá, se estiver frio rola até uma cobertinha e então é só curtir a noite juntos, apertar o “play” e ser feliz. Pensou em alguém especial? É claro que eu estou falando dela: a Netflix. Se você achou que eu me referia a uma pessoa, é porque essa marca tira de letra um dos aspectos mais importantes para qualquer negócio: humanização. Como eu sempre digo: ter um produto ou serviço de qualidade não é nada além do básico. Difícil mesmo é conquistar o coração das pessoas.
E a Netflix entendeu direitinho que esse laço emocional é o que traz clientes fiéis e apaixonados que não vão apenas comprar de você, mas se tornar advogados da sua marca. Se esse papo te fez ter saudades daquela série que está só aguardando você chegar em casa, imagina o susto que muita gente levou ao se deparar com a nova proposta da empresa.
Pois é, a Netflix acaba de anunciar o seu novo plano de assinaturas no Brasil que, apesar de custar menos que o original, deve interromper a sagrada programação para transmitir anúncios de marcas parceiras. Como você já deve imaginar, a novidade não agradou. Teve até gente dizendo que: “no Youtube a gente paga para tirar os anúncios, na Netflix a gente paga para colocar”.
Mas antes de comentar isso, vale lembrar que essa ação foi uma resposta da empresa para conter a queda de faturamento que estavam enfrentando, já que a Netflix perdeu 200 mil assinaturas no início de 2022. E a projeção era que mais clientes deixassem o serviço, o que assustou os acionistas. Uma das propostas para conter a crise era oferecer um serviço mais barato (mas sem perder em faturamento), e foi aí que surgiram novos planos com anúncios.
Só que antes mesmo dele ser lançado por aqui, a Netflix já havia contido a crise. Após registrar uma perda assustadora de quase dois quartos da sua base de clientes, a empresa alcançou o marco de 2,4 milhões de assinantes no terceiro trimestre de 2022 (superando muito as expectativas). Atualmente a empresa conta com 223 milhões de usuários em todo o mundo.
Se as assinaturas mais baratas não foram decisivas, o que foi então? Uma união de fatores, vem ver!
Retrospectiva Netflix
Para entender o sucesso da Netflix a gente precisa se lembrar que a marca revolucionou a forma com que assistimos a filmes, séries, documentários e até mesmo novelas. Antes que você pense que eu estou exagerando, basta se lembrar do impacto que a Netflix causou na indústria cinematográfica, que passou a vetar a participação de filmes que não fossem lançados no cinema em premiações e festivais por conta do impacto dos serviços de streaming. A empresa revolucionou não apenas o mercado, mas o comportamento das pessoas, tudo a partir do uso original de uma tecnologia ainda em desenvolvimento. Basta se lembrar do quão genial era a ideia de poder assistir alguma coisa sem precisar baixar aquele conteúdo. Mas para entender melhor o impacto que a Netflix gerou, precisamos voltar ao início da sua história.
O Começo
Antes de se tornar uma empresa de tecnologia, a Netflix alugava DVDs pelo correio em 1997. E não teve nada de romântico nessa escolha, viu? Os fundadores afirmaram que estavam em busca de um serviço de vendas que fosse impulsionado pela internet, mas fosse operacionalizado pelos correios, simples assim. Eles sabiam o que queriam e fizeram muita pesquisa para, finalmente, encontrar algo lucrativo. Esse é o auge das locadoras de filmes, então a marca também queria oferecer algo a mais: foi aí que surgiu a ideia de vender uma assinatura (e não mais alugar os DVDs separadamente). Aqui começava a nascer as primeiras ideias que dariam origem ao serviço de streaming. Os clientes não pagavam multa nem tinham prazo para entregar os DVDs, a única exigência era que, para locar um novo título, eles precisavam entregar o antigo, o que agradou o público. Em 2002 a empresa americana contava com 670 mil assinantes. O negócio deu tão certo que eles decidiram investir em formas de melhorar a experiência do cliente e foi aí que começaram a desenvolver um algoritmo que recomendasse novos filmes com base nas escolhas dos clientes (tá sentindo um cheirinho da Netflix que você conhece hoje, não é mesmo?).
A Virada
u não te contei que, lá em 97, muita gente não tinha certeza se os DVDs seriam populares nos EUA, mas essa era uma dúvida que não impediu que a empresa apostasse no seu negócio – que se mostrou ser um sucesso. Em 2004 quase dois terços das casas norte-americanas tinham um DVD Player, para se ter uma ideia. Mas em 2007 surgiu uma nova tecnologia: o streaming. E foi aí que a Netflix se arriscou novamente e passou a investir na tecnologia, oferecendo os DVDs e o streaming paralelamente. Em 2010 a empresa passou a oferecer o serviço separado dos DVDs, o que gerou muita insatisfação entre os clientes. Apesar da crise, a empresa decolou com a disseminação da tecnologia. Em abril de 2011 a marca contava com 23 milhões de assinantes apenas nos EUA, mas já havia começado seu processo de expansão para outros países. Um dos motivos do sucesso estrondoso foi transformar o cliente no protagonista da sua programação. Ele poderia ver o que quisesse, na hora que quisesse. Com o tempo a empresa encontrou outras formas de despertar o desejo pelo serviço, dentre elas, a criação de conteúdos próprios, que só estavam disponíveis na Netflix. A primeira série original Netflix, House of Cards, estreou em fevereiro de 2013.